Traumas emocionais: como reconhecer e curar suas feridas
Experiências dolorosas ou impactantes, muitas vezes, acabam se tornando traumas emocionais que levamos para toda a vida. Todo mundo tem algum tipo de trauma, umas pessoas mais do que outras. O problema é que esses traumas, muitas vezes silenciosos, podem influenciar nossos comportamentos, pensamentos e relações, mesmo sem que você perceba.
Traumas emocionais podem, por exemplo, ser o motivo por você estar sempre em relacionamentos não saudáveis ou por aceitar condições ruins de trabalho, ou mesmo amizades que nao te dão o devido valor. Por isso, reconhecer os traumas e iniciar o processo de cura é um passo fundamental para recuperar o equilíbrio emocional e construir uma vida mais plena.
O Que São Traumas Emocionais?
Primeiro, deixa eu explicar mais sobre os traumas. Na perspectiva psicanalítica, um trauma emocional ocorre quando um evento ou experiência ultrapassa nossa capacidade de lidar com aquela situação. Essa vivência pode gerar uma “fixação psíquica”, ou seja, o indivíduo permanece inconscientemente preso àquele momento, revivendo a dor de forma simbólica em diversos aspectos da vida.
Eventos como perdas significativas, negligência, abuso ou rejeição podem desencadear traumas emocionais. Mas a percepção do trauma é individual. Cada pessoa vivencia de forma diferente. O que é traumático para uma pessoa pode não ser para outra, dependendo de fatores como personalidade, história de vida e suporte emocional.

Como Reconhecer Traumas Emocional
Identificar traumas emocionais pode ser um desafio, pois nem sempre as marcas aparecem de forma clara. Para ajudar, listei alguns sinais comuns. Veja se você passa por um ou mais deles:
Repetição de Padrões de Comportamento
Na psicanálise, isso é chamado de “compulsão à repetição”. Um indivíduo pode repetir inconscientemente situações semelhantes à experiência traumática, como relacionamentos abusivos ou situações de abandono. Você pode até perceber que aquilo é ruim pra você, mas mesmo assim repete o padrão.
Reações Emocionais Desproporcionais
Explosões de raiva, tristeza profunda ou ansiedade intensa diante de situações aparentemente triviais podem indicar que o trauma está sendo reativado. É muito comum quando a pessoa passa em um local onde foi assaltada, por exemplo. Só de estar ali, o trauma pode fazer reviver o momento.
Fuga ou Evitação
Evitar pessoas, lugares ou conversas que lembrem a experiência traumática é um mecanismo de defesa comum. Sabe aquele assunto que você evita ao máximo falar, ou lugar que você congela só de pensar em ir? É disso que estou falando.
Sintomas Psicossomáticos
Doenças ou dores físicas sem causa médica aparente podem estar relacionadas a traumas emocionais. O corpo muitas vezes expressa o que a mente reprime. Tenho uma amiga, por exemplo, que passou por um trauma e logo em seguida desenvolver câncer de garganta. Não foi por acaso.
Dificuldades em Relacionamentos
Problemas para estabelecer confiança ou intimidade podem estar ligados a feridas emocionais não resolvidas. Isso pode estar desde dificuldade de se abrir em assuntos mais íntimos, até mesmo a questões sexuais. O trauma pode te bloquear de se sentir confortável de expor sua intimidade, mesmo que você esteja já com seu parceiro a anos.

O Caminho da Cura dos Traumas Emocionais
É importante ter em mente que curar traumas emocionais é um processo que exige tempo, paciência e, muitas vezes, acompanhamento profissional. Isso porque leva tempo para a mente revisitar a dor de forma segura e gradual, permitindo que os mecanismos de defesa, como repressão ou negação, sejam trabalhados.
O processo terapêutico envolve a ressignificação das emoções associadas ao trauma. Além disso, o ritmo de cada indivíduo é único, dependendo de suas experiências, recursos emocionais e do vínculo que estabelece com o psicanalista, que é essencial para promover essa transformação interna.
Listrei abaixo os principais os principais passos para iniciar essa jornada:
1. Reconhecimento
O primeiro passo é reconhecer que existe uma ferida. Sem essa consciência, é impossível iniciar a cura. A terapia psicanalítica, por exemplo, oferece espaço para explorar as camadas mais profundas do inconsciente, trazendo à luz experiências reprimidas e dando a possibilidade de tratá-las.
2. Falar Sobre o Trauma
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, acreditava no poder da “ab-reação” – o ato de reviver e expressar a experiência traumática em um ambiente seguro. Ao verbalizar o que aconteceu, é possível ressignificar o evento. Existem técnicas psinacálicas que fazem esse processo de forma gradual, considerando se a pessoa está confortável ao falar.
3. Reconstrução do Ego
Traumas enfraquecem a capacidade do ego de lidar com conflitos internos – e o ego é uma parte central da psique humana, responsável por mediar a relação entre nossos impulsos internos, a realidade externa e as normas sociais. O processo terapêutico ajuda a fortalecer o ego, permitindo que o indivíduo enfrente as memórias dolorosas sem se sentir oprimido por elas.
4. Desenvolvimento de Novos Padrões
Uma vez que o trauma é compreendido, é possível identificar os padrões disfuncionais que ele gerou e substituí-los por comportamentos mais saudáveis e conscientes.
5. Autocuidado e Compaixão
O processo de cura exige acolhimento. Desenvolver a capacidade de tratar a si mesma com gentileza e empatia é essencial para reconstruir a autoestima. Parece óbvio e simples, mas é bem mais complexo do que parece, pois envolve a forma como o indívuo se vê. Muitas vezes, por questões como criação ou relacionamentos tóxicos, inconscientemente o indíduo sempre se coloca em segundo plano. Virar essa chave é fundamental.

Quando Buscar Ajuda Profissional
Se você identifica sinais de trauma emocional e sente dificuldade em lidar com eles sozinha, é importante procurar ajuda de um profissional. A terapia psicanalítica é uma ferramenta valiosa para compreender as raízes dos traumas e trabalhar suas consequências. Um psicanalista pode te ajudar a navegar pelo inconsciente, resgatando e ressignificando experiências dolorosas.
Curar traumas emocionais é um ato de coragem e amor-próprio. Embora o processo possa ser desafiador, ele é também libertador. Ao reconhecer suas feridas e trabalhar para superá-las, você não apenas melhora seus relacionamentos, mas também recupera a conexão consigo mesma. Lembre-se: o caminho da cura é um gesto de respeito pela sua própria história.